PICHAÇÃO POÉTICA, SPRAYAÇÃO E “A POESIA DO ACASO”
FONSECA, Cristina. A poesia do acaso (na transversal da cidade). São Paulo: T. A. Queiroz, Editor, 1982? 118 p. ISBN 85-85008-43-1 Fotografia: Virgínia Fonseca. Aborda a questão da evolução do grafismo, sua etimologia, e sua aparição ostensiva a partir de Paris, em Maio de 68. Inclui também o grafismo poético no metrô de Nova Iorque e os grafites no Brasil (1979-1982), e entrevista com Décio Pignatari sobre a sprayação, a pichação e sua relação com a poesia concreta e a poesia marginal. Col. A.M.
Uma bela iniciativa a de Cristina Fonseca de organizar este livro pioneiro sobre a poética dos muros, com os registros fotográficos de Virgínia Fonseca. Vale também o retrospecto sobre a trajetória da pichação a partir do movimento estudantil de Maio de 68 na França e em muitos países, passando pelos hippies e desembocando aqui com a poesia marginal e a contra-cultura (que hoje já está nas galerias de arte e na academia). Mas estamos focando um grafismo urbano centrado nos textos como imagens, em certa medida ideogrâmicos, que constituem, não raras vezes, expressões de poesia. Como observou Décio Pignatari, “ o que caracteriza o SPRAY é o fato de ele ser uma escritura em público, o modo pelo qual o poeta conseguiu ir além da barreira da escritura particular. Na escritura solitária o evento só passa a existir no momento em que vem a público, enquanto no SPRAY o ato de escrever já é público, e isso muda tudo” (p 36). A relação com o Concretismo, no entendimento do fundador do grupo, está na consciência do instrumento a ser usado, pois “o pichador sabe que tem de estruturar as palavras de maneira que leve em conta alguns parâmetros e limitações, para que a escritura funcione” (p. 38).
Só descobrimos o livro da Cristina recentemente. Mas o tema continua vigente e atual, razão porque fica aqui o devido registro. Embora o livro talvez somente seja acessível em sebos e em poucas bibliotecas. ANTONIO MIRANDA
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